Ponte Velha de Silves foi classificada Monumento de Interesse Público

Ponte Velha de Silves foi classificada Monumento de Interesse Público

A Ponte Velha de Silves, sobre o rio Arade, foi classificada Monumento de Interesse Público. Esta classificação vem, assim, reconhecer o valor cultural deste imóvel, ícone de Silves e marco histórico nas acessibilidades ao Barlavento algarvio, cuja origem remontará a meados do século XIV.

O Município de Silves congratula-se com esta classificação por parte do Estado, resultante do empenho e esforço da autarquia silvense em tomar medidas de proteção deste monumento histórico da cidade, e apresenta-se como o 12.º monumento do concelho classificado Monumento de Interesse Público, juntando-se, assim, à Cisterna Islâmica da Rua do Castelo, Ermida da Nossa Senhora do Pilar, Igreja Paroquial de Alcantarilha, Castelo de Alcantarilha, Igreja Matriz de São Bartolomeu de Messines, Fortaleza de Armação de Pêra, Pelourinho de Silves, Igreja de São Francisco, Quinta da Cruz, Ermida da Nossa Senhora dos Mártires e à Igreja da Misericórdia de Silves.

Note-se que a classificação da Ponte Velha de Silves como Monumento de Interesse Público reflete os critérios relativos não só ao seu caráter matricial, mas também ao seu interesse como testemunho notável de vivências ou factos históricos, ao seu valor estético, técnico e material intrínseco, à sua conceção arquitetónica, urbanística e paisagística, e à sua extensão e ao que nela se reflete do ponto de vista da memória coletiva. A definição da zona especial de proteção (ZEP) tem em vista a valorização do imóvel enquanto bem cultural, considerando a sua implantação e a sua relação com a paisagem e a malha urbana da envolvente, e respeitando os nexos do lugar e da sua história.

De salientar que a ponte velha será alvo de obras de reabilitação construtiva e estrutural, tendo o Município concluído, recentemente, o processo de adjudicação da obra. Esta intervenção, cujo investimento ronda os 355 mil euros, incluirá trabalhos de conservação, restauro e reforço com o objetivo de estabilizar os processos de degradação, reforçar estruturalmente a obra-de-arte, melhorar os acessos e circulação e harmonizar em termos estéticos todo o conjunto.

Sobre a Ponte Velha

Designada frequentemente por “ponte romana”, a sua construção não será tão remota. Em contraste com a robustez das obras romanas apresenta tabuleiro pouco espesso e em cavalete, o talhe dos blocos, mais pequenos e com marcas de canteiro, a tipologia das aduelas e o grande vão dos arcos evidenciam uma fábrica medieval. Por outro lado, as marcas de canteiro surgem logo na base da infraestrutura, o que juntamente com as características medievais dos silhares indicia a ausência de fundações anteriores. Na verdade, não foi detetada a reutilização de quaisquer elementos de construções antigas, além de que as descrições da cidade no período islâmico, ou mesmo a do cruzado anónimo, em 1189, não fazem referência a qualquer ponte.

A primeira referência conhecida remonta a 1439, quando nas cortes de Lisboa, os silvenses lastimavam que a ponte tivesse ruído na sequência de uma grande cheia, pedindo a intervenção do rei para a sua reconstrução. As obras decorreram nos anos seguintes, embora dilatadas pelo tempo, dado que em 1459 ainda não estavam concluídas. Em 1473 os trabalhos estavam terminados, tal como as obras da Sé, congratulando-se os representantes de Silves, nas cortes de Évora, com o apoio de D. Afonso V e com a ajuda divina. Refira-se que D. Álvaro de Pais, bispo de Silves (1334-1352), havia lançado uma maldição sobre a cidade, segundo a qual as obras na ponte e na Sé jamais se concluiriam, praga que, desta forma, não se concretizaria, mas que permite concluir que as obras já decorriam em meados do século XIV.

A impetuosidade do rio causou, até à construção da barragem, em 1956, danos consideráveis na infraestrutura destruindo-a com alguma frequência. Em 1600 encontravam-se desmoronados dois arcos, já reparados em 1621.

Construída com blocos aparelhados de grés de Silves, tem atualmente 76 m de comprimento, por 5,5 m de largura. Apresenta cinco arcos de volta perfeita, intercalados por talha-mares piramidais de tripla face que suportam o tabuleiro em cavalete ligeiro, com guardas laterais e mirante. Este último, construído aquando de uma nova intervenção, agora em 1716, marcaria o centro da ponte, que teria um comprimento total de 96,60 m. Esta campanha, levada a efeito por um dos mais notáveis mestre-pedreiro da época, Inácio Mendes teve, mais uma vez, como objetivo a reconstrução de dois arcos, que haviam desmoronado, junto à margem direita. Dela resultou ainda, o parapeito semicilíndrico em grés e a obstrução de pequenos arcos de descarga, que existiam por cima dos talha-mares, dando ao monumento a configuração que hoje ostenta.

Até à inauguração da ponte de Portimão (1876) todo o tráfego terrestre destinado ao barlavento algarvio era feito exclusivamente por Silves. Em 1963, face a problemas estruturais, que a ponte vinha a apresentar, foi substituída por uma nova infraestrutura. Poucos anos antes uma ponte provisória, em madeira, permitiu a travessia do rio, até à sua destruição por uma cheia. A construção da avenida marginal viria a amputar o acesso direto ao tabuleiro da ponte velha, sendo, a partir de então, convertida em pedonal.

Volvidos cerca de 700 anos da sua construção a ponte incongruentemente “romana” é um ícone de Silves e um marco histórico nas acessibilidades ao barlavento algarvio.

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